Acessibilidade na TV: o intérprete como pilar da comunicação acessível

Por | Social Media na Uníntese |


No Brasil, onde a televisão ainda é uma das principais fontes de informação e entretenimento, discutir acessibilidade é discutir democracia, direitos e cidadania. Nesse cenário, os intérpretes de Libras cumprem uma função essencial: garantir que pessoas surdas tenham acesso ao mesmo conteúdo que qualquer outro telespectador.

Entre esses profissionais, Denis Pereira, intérprete há 21 anos, ex-aluno e hoje professor da Uníntese, se destaca por sua atuação pioneira, técnica e profundamente humana no contexto midiático.

Com passagens por diferentes programas televisivos, transmissões especiais e participação marcante no Teleton, Denis integra uma geração de intérpretes que não apenas ocupam a tela, mas transformam a forma como a televisão brasileira enxerga a inclusão.

Ser intérprete ao vivo: muito além da ponte, um agente transformador

Ao ser perguntado sobre o que sente ao interpretar ao vivo, muitos esperariam ouvir a metáfora de “ser ponte entre mundos”. Denis, porém, amplia essa visão:

“Não me vejo como ponte. Eu me vejo e me sinto como um agente transformador. Garantir o direito das pessoas surdas se informarem, se entreterem, consumirem conteúdos, informações e culturas é algo realmente prazeroso para mim. Mas sempre lembro que esse trabalho só acontece quando há investimento constante em formação e qualificação profissional. Nada substitui a preparação do intérprete.”

A fala evidencia o que muitas vezes passa despercebido: interpretar é mais do que gesticular palavras; é garantir autonomia, acesso e pertencimento.

Desafios da acessibilidade na TV ao vivo: bastidores que quase ninguém vê

Ao longo da carreira, Denis participou de debates, produções e programas, mas sua passagem pelo extinto “Aqui na Band” (2019–2020) revelou de forma clara os entraves estruturais da acessibilidade televisiva no país.

Segundo ele:

“Baseado nas minhas experiências, especialmente quando trabalhei no ‘Aqui na Band’, percebi que o maior desafio é a falta de notoriedade do tema ao ser encaminhado ao Ministério das Comunicações. Muitas emissoras privadas usam concessões públicas e, ainda assim, não cumprem plenamente suas responsabilidades de acessibilidade. Canais estatais ou de economia mista, como a TV Cultura, seguem o básico da legislação pela lógica da PPP, mas isso ainda é insuficiente. Por isso, movimentos da população surda e de entidades de apoio são fundamentais para cobrar que a acessibilidade avance para todos os tipos de programas — e não fique restrita ao jornalismo.”

Ele também destaca algo que a TV frequentemente ignora:

“As pessoas surdas também consomem entretenimento, variedades, debates, cultura. E a televisão precisa reconhecer isso.”

Além disso, reforça que closed caption não é acessibilidade plena, pois não contempla as especificidades linguísticas e culturais da Libras, nem garante compreensão total.

A TV brasileira avançou em inclusão? Segundo Denis, ainda não no ritmo necessário

Com visão crítica e fundamentada, Denis é direto:

“A grosso modo, ainda não avançamos como deveríamos. Para acelerar esse processo, o público precisa cobrar das autoridades competentes. Movimentos políticos fazem diferença e já fizeram antes. A TV INES revolucionou o consumo informativo para surdos, mas ficou limitada à internet, quando poderia ter um canal aberto. Melhorar a inclusão exige conhecimento técnico, formação específica e informação de qualidade. Sem isso, nada muda.”

Mensagem para o Dia Internacional da TV: acessibilidade não é estética, é direito

No Dia Internacional da TV, Denis deixa um recado claro e assertivo às emissoras, produtores e profissionais da mídia:

“Investir bem em acessibilidade em todos os segmentos televisivos é aumentar a fidelidade do público. Com a chegada da TV 3.0, adequar os conteúdos para todos os públicos deixa de ser tendência e se torna uma realidade inevitável. E a janela de Libras não é um elemento estético, como muitos pensam. Ela existe para assegurar direitos. O tamanho indicado pela ABNT não prejudica a fotografia da imagem — ele garante que o básico seja cumprido: o direito à informação.”

Uma trajetória que abriu portas na televisão brasileira

Com mais de duas décadas de experiência, Denis participou de cerca de cinco programas de TV e fez sua primeira participação no Teleton, um marco em sua carreira. Ele descreve essa experiência da seguinte forma:

” No Teleton foi a primeira vez e agradeço a empresa Concectar 360 que me confiou essa responsabilidade. E a Escreve Brasil que me permitiu atuar no primeiro programa não jornalístico e numa emissora não-estatal como o primeiro Intérprete da TV brasileira desde a abertura até o ultimo dia do programa. Sei que muitos dirão acerca da TV Cultura, mas o segmento é outro e a competência do canal é de economia mista e tem uma PPP como citada antes. “

Conclusão: inclusão não é exceção, é o futuro da TV

O depoimento de Denis Pereira reforça uma verdade simples, mas estrutural: a televisão brasileira só será verdadeiramente democrática quando todas as pessoas puderem acessar seu conteúdo, sem barreiras linguísticas ou técnicas.

Sua trajetória evidencia que:

  • intérpretes não são coadjuvantes;
  • acessibilidade não é favor;
  • o público surdo está presente e exige espaço;
  • políticas públicas precisam ser fortalecidas;
  • emissoras devem planejar inclusão desde o início;
  • e que formação e qualificação são pilares indispensáveis.

Acessibilidade na TV é caminho, compromisso e futuro

O relato de Denis Pereira nos convida a enxergar a televisão brasileira sob outra perspectiva: a de que não basta produzir conteúdo, é preciso garantir que ele seja acessível a todos. Sua trajetória revela que a presença do intérprete vai muito além da técnica: ela representa democracia, pertencimento e a construção de uma sociedade que reconhece a diversidade linguística como parte de seus fundamentos.

Ao longo de 21 anos, Denis demonstra que:

  • intérpretes não são figuras decorativas, mas profissionais indispensáveis;
  • acessibilidade não é um gesto de boa vontade, mas um direito;
  • o público surdo existe, acompanha, participa e exige espaço;
  • políticas públicas e pressão social caminham juntas para mudar cenários;
  • a mídia só será plural quando planejar inclusão desde a criação do conteúdo;
  • e nenhuma transformação acontece sem formação qualificada.

Sua reflexão reforça que inclusão não é um adendo, mas uma base para uma televisão que realmente represente todos os brasileiros. Em um momento em que a TV 3.0 se aproxima, a acessibilidade deixa de ser tendência e se torna urgência.

E é nesse contexto que a frase de Denis ganha ainda mais força, não como comentário, mas como direção:

“A janela de Libras não é detalhe. É direito, é representação, é cidadania.”

Enquanto profissionais como Denis Pereira seguirem abrindo caminhos, a televisão brasileira estará cada vez mais perto de se tornar, finalmente, para todos.

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