[Libras] Princípios e parâmetros da Língua de Sinais Brasileira – Eduardo Felten

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Introdução

As reflexões que faremos a partir deste pequeno ensaio, serão pautados nos estudos sobre Língua/Linguagem, objeto de estudo da Linguística. Sabemos que este objeto ou “coisa” – isto é, a língua/linguagem – é passível de observação, estudo e análise pelo linguista. Assim, a Linguística é a ciência que estuda a língua/linguagem.

Para seguirmos com a nossa reflexão, é importante destacarmos a diferença entre Língua e Linguagem. Iniciamos, então, com a possível definição de Linguagem, uma vez que funciona como um hiperônimo. Assim, Saussure (2002) diz que a Linguagem é um fenômeno. O autor suíço acrescenta que a Linguagem é, ainda, “o exercício de uma faculdade que existe no homem” (p. 115). A Língua, por sua vez, “é o conjunto de formas concordantes que esse fenômeno assume numa coletividade de indivíduos e numa época determinada” (ibid.).

Ao se tratar da coletividade dessas formas, ou signos como Saussure utiliza, nos deparamos com sistemas linguísticos distintos, isto é, cada comunidade de fala, sejam os indivíduos falantes de uma língua oral ou língua de sinal, possuem sua própria estrutura. Ao abordar a organização, contaremos com o modelo de princípios de parâmetros, modelo mais recente da Gramática Gerativa, teoria linguística criada por Noam Chomsky e por outros linguistas do Massachusets Institute os Thechnology entre 1960 e 1965.

A teoria gerativa estabelece que há estrutura subjacente geral entre todas as línguas. Por isso, o seu objetivo é o estudo de mecanismos necessários e comuns a todas as línguas, embora, de forma superficial, no âmbito da coletividade de indivíduos que falam uma determinada língua, há particularidades que as diferenciam. Os mecanismos necessários e comuns a todas as línguas aqui posto, dizem respeito a Gramática Universa (GU). De acordo com Du Marsais (1769 apud DEBOIS, 2014, p. 294), a GU formula “observações que convém a todas as línguas”.

O modelo de princípios e parâmetros criado por Chomsky contribui para uma grande inovação. O modelo propõe que a GU deve ser composta de dois tipos de princípios: “alguns que são rígidos e invariáveis” (VIOTTI, 2008, p. 41), isto é, são imutáveis, “e que são incorporados por todas as línguas” (ibid.). O segundo tipo são abertos, “oferecendo em geral duas possibilidades de valores, que vão ser fixados ao longo do processo de aquisição, com base na informação obtida por meio do ambiente linguístico em que a criança de desenvolve”. Esses princípios abertos são chamados de parâmetros.

No que diz respeito a Libras, duas grandes autoras se valeram da Teoria Gerativa de Chomsky para elaborar as análises linguísticas na Língua. Na obra Língua de Sinais Brasileira: estudos linguísticos, Quadros e Karnopp (2004) trazem uma importante análise dos aspectos linguísticos da Libras. Embora a obra seja de 2004, ainda hoje permanece como referência para àqueles e àquelas que estão inaugurando suas investigações na língua, ou para os linguistas mais experientes.

Adotamos a bibliografia das autoras mencionadas para fundamentar o tema proposto. Dessa forma, as autoras apresentam considerações fundamentais no âmbito da fonologia da Libras, assunto que nos importa neste momento. A partir daqui veremos um compêndio dos Parâmetros fonológicos da Libras.

O léxico na Libras apresenta um conjunto de unidades menores que são compostas pelas configurações de mãos (CM), pelas locações (L) e pelos movimentos (M), conforme podemos observar na Figura 1 abaixo:

A seguir, veremos cada um desses Parâmetros apresentados, a saber Configuração de Mão, Movimento e Locação, tidos como Parâmetros primários, e veremos outros dois Parâmetros tidos como secundários, mas não menos importantes, que são a Orientação da Palma da Mão e as Expressões Não-Manuais.

Princípios e parâmetros da Língua de Sinais Brasileira – Eduardo Felten

1. Configuração de Mão (CM)

As Configurações de Mãos consistem na forma da qual a mão do sinalizante toma ao produzir um sinal. Com o passar do tempo e com a ascensão das pesquisas linguísticas, essas formas foram organizadas em tabelas no intuito de registro. Ferreira-Brito e Langevin (1995 apud QUADROS. KARNOPP, 2004, p. 53) apresentam 46 CMs. Felipe (2004), por sua vez, registra 64 CMs. Já Faria-Nascimento (2009) propõe o registro de 76 CMs.

2. Movimento (M)

De acordo com Quadros e Karnopp (2004, p. 54), o movimento é pode ser definido como “um parâmetro complexo que pode envolver uma vasta rede de formas e direções”. Assim, observamos que o Movimento pode se apresentar na parte interna da mão, como nos dedos, punhos, antebraços e braços. O Movimento deve estar em consonância com a Configuração de Mão e em um determinado ponto que pode ser no espaço neutro, isto é, no espaço à frente do tronco, ou em algum ponto específico do corpo do sinalizante.  Na Figura 2, observamos a representação do sinal referente ao verbo AJUDAR na Libras. O Movimento está marcado por uma seta indicando a direção. Veja:

3 . Locação (L) ou Ponto de Articulação (PA)

De acordo com Fiedman (1977 apud QUADROS; KARNOPP, 2004, p. 56), o Parâmetro Locação ou Ponto de Articulação “é aquela área do corpo, ou no espaço de articulação definido pelo corpo ou perto no qual o sinal é articulado”. Em outras palavras, o PA ou L pode ser um local bem definido no corpo ou no espaço neutro do sinalizante. Faria-Nascimento (2009) traz uma proposta interessante sobre o mapeamentos desses pontos. Observemos na Figura 3, a seguir.

4. Orientação da Palma da Mão (Or)

 A Or é a direção da qual a palma da mão está ao realizar um sinal. De acordo com Marentette (1995, p. 209) há seis tipos de Or na Libras, a saber: a palma da mão voltada para cima, para baixo, para o corpo, para frente, para a direita ou para a esquerda. Podemos observar essas Orientações na Figura 4.

5. Expressões não-manuais (ENM)

As ENM na Libras contemplam o movimento da face, dos olhos, da cabeça ou do tronco ao sinalizar. Assim, conforme apresenta Quadros e Karnopp (2004, p. 60), As ENM que consistem componentes lexicais marcam referência específica, referência pronominal, partícula negativa, advérbio, grau ou aspecto, aspectos gramaticais elementares na língua.

Para não finalizar

Apresentamos até aqui uma síntese dos Parâmetros fonológicos da Libras. Muitas pesquisas foram desenvolvidas e têm considerado tais questões como cruciais. O que devemos ter em mente, com essa breve explanação, é admitirmos e entendermos que a Libras é, de fato, uma língua não só por tudo o que apresentamos, mas por todo o esforço epistemológico de análise linguística que muitos pesquisadores e pesquisadoras afirmam sobre os aspectos da língua.

Isto posto, devemos voltar a nossa atenção para a Comunidade Surda brasileira. Tudo o que apresentamos só foi possível graças a resistência dos falantes da Libras frente a ondas de preconceitos que envolvem tanto a pessoa surda, quanto a sua língua. Com o viés cultural, lutamos para que a Libras receba o tipo de difusão deliberada que chamamos de educação.

Referências Bibliográficas

AUDREI, G. Libras? Que língua é essa?: crenças e preconceitos em torno da língua de sinais e da realidade surda. São Paulo: Parábola Editorial, 2009.

BAGNO, M. Língua, linguagem e linguística: pondo os pingos nos ii. São Paulo: Parábola Editorial, 2014.

COELHO, I. L.; MONGUILHOTT, I. O. S.; MARTINS, M. A. Sintaxe. Texto-base: Letras Libras EaD – Universidade Federal de Santa Catarina, 2009.

FARIA-NASCIMENTO, Sandra Patrícia. Representações Lexicais da Língua de Sinais Brasileira: uma proposta lexicográfica. (Tese de Doutorado). Universidade de Brasília, 2009.

KARNOPP, L. Fonética e Fonologia. Texto-base: Letras Libras EaD – Universidade Federal de Santa Catarina, 2008.

PARREIRA, Míriam S. A importância do pensamento de Saussure e da teoria de Chomsky para a Linguística Moderna. In: Domínios de Lingu@gem. Uberlândia. vol. 11, n. 3. jul./set. 2017.

QUADRO, R. M.; KARNOPP, L. Língua de Sinais Brasileira: estudos linguísticos. Porto Alegre: Artmed, 2004.

VIOTTI, E. Introdução aos estudos linguísticos. Texto-base: Letras Libras EaD – Universidade Federal de Santa Catarina, 2008.

Texto original: Louise Rakoski /blog Ensino.digital


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